O
apóstolo Paulo foi um dos maiores instrumentos humanos para o reino de Deus na
história da humanidade e na história da redenção. Ele foi responsável pela
propagação do evangelho por todo Império Romano durante um período de
perseguição quase inigualável, sendo um excelente exemplo do que significa ser
um ministro cristão. No entanto, ele realizou tudo isso por meio da simples
proclamação da mensagem mais escandalosa que já alcançou os ouvidos dos homens.
Paulo era um homem excepcionalmente capacitado, especialmente com respeito a
seu intelecto e zelo. Contudo, ele mesmo nos ensinou que o poder do seu
ministério não repousava em seus dons, mas na fidelidade da proclamação do
evangelho. Em sua primeira carta aos coríntios, Paulo escreve este grande
aviso: “Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho;
não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo... Porque
tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos
a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas
para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder
de Deus e sabedoria de Deus.”[1]
O
apóstolo Paulo era, acima de tudo, um pregador. Como Jeremias antes dele, ele
foi obrigado a pregar. O evangelho era como um fogo ardente, encerrado nos seus
ossos, que ele não conseguia conter. Aos coríntios, ele declarou: “Cri, por isso
falei”[2],
e também: “Ai de mim se não pregar o evangelho!”[3] Essa
grande estima pelo evangelho e pela sua pregação não pode ser dissimulada
quando não existe no coração do pregador e não pode ser escondida quando
existe.
Deus
chama todo tipo de homens para carregar o fardo da mensagem do evangelho.
Alguns são mais solenes e graves, já outros mais alegres e joviais. No
entanto, quando a conversa é sobre o evangelho, uma mudança vem sobre o
semblante de um pregador e é como se estivesse diante de nós uma pessoa
completamente diferente. A eternidade está estampada em seu rosto, o véu fora
removido e a glória do evangelho brilha com uma paixão genuína. Tal homem tem
pouco tempo para histórias fantásticas, antídotos morais ou pensamentos de seu
coração. Ele veio para pregar, e pregar ele deve! Ele não pode descansar até
que o povo tenha ouvido de Deus. Se o servo de Abraão não podia comer até que
entregasse a mensagem do seu mestre Abraão[4],
quão menos o pregador do evangelho pode se desleixar até que tenha entregado o
tesouro do evangelho a ele confiado[5]!
Embora
poucos discordem com o que temos dito até agora, parece que, para a maioria,
tal pregação apaixonada está fora de moda. Muitos diriam que ela não tem o
requinte e a sofisticação que são necessários para sermos eficazes na modernidade.
O homem pós-moderno, que prefere um pouco mais de “humildade” e de abertura com
outros pontos de vista, considera um pregador apaixonado que proclama a
verdade com coragem e sem ser evasivo como um entrave. O argumento da maioria é
que devemos simplesmente mudar nossa maneira de pregar, pois ela parece tola
para o mundo.
Tal
atitude com relação à pregação é a prova de que perdemos nosso rumo na
comunidade evangélica. Foi Deus quem designou a “loucura da pregação” para ser o
instrumento que leva a mensagem de salvação do evangelho ao mundo[6].
Isso não quer dizer que a pregação deva ser tola, ilógica, ou estranha. No
entanto, a Escritura é o padrão para toda a pregação, e não as opiniões contemporâneas
de uma cultura decaída e corrupta que é sábia aos seus próprios olhos e que
prefere ter suas orelhas agradadas e seu coração entretido em vez de ouvir a
Palavra do Senhor[7].
O
apóstolo Paulo pregou o evangelho em todos os lugares por onde ele viajou, e
faríamos bem em seguir o seu exemplo. Embora o evangelho possa ser
compartilhado por muitos meios, não há um que seja tão ordenado por Deus como a
pregação. Portanto, àqueles que estão constantemente buscando formas inovadoras
de comunicar o evangelho para uma nova plateia[8],
faria bem começar e terminar uma pesquisa nas Escrituras. Os que enviam
milhares de questionários perguntando aos não convertidos o que mais desejam em
um culto devem perceber que dez mil opiniões unânimes de homens carnais não
carregam a autoridade de um “i”
ou “til” da Palavra de Deus[9].
Devemos entender que há um grande abismo de diferenças irreconciliáveis entre
o que Deus ordenou nas Escrituras e o que a atual cultura carnal deseja.
Não
devemos nos surpreender que homens carnais, tanto dentro como fora da igreja,
desejem teatro, música e mídia no lugar da pregação do evangelho e da exposição
bíblica. Até que Deus regenere o coração de um homem, esse responderá ao
evangelho da mesma forma que os demônios do gadareno se dirigiram ao Senhor
Jesus Cristo: “Que temos nós contigo, Filho de Deus?”[10]' O
homem carnal não pode ter nenhum verdadeiro interesse ou apreço pelo evangelho
à parte da obra regeneradora do Espírito Santo. E, no entanto, esse milagre
acontece no coração humano por meio da pregação do evangelho que, a princípio,
ele desdenha. Portanto, devemos pregar a homens carnais a própria mensagem que
não desejam ouvir, esperando que o Espírito aja! Se isso, os pecadores podem
ver beleza no evangelho tanto quanto um porco pode achar valor em pérolas, ou um
cão pode mostrar reverência ante uma carne santificada, ou um cego pode
apreciar um quadro de Rembrandt[11].
Pregadores fazem um desserviço a homens carnais dando-lhes aquilo que seus
corações caídos desejam, mas lhes servem de fato quando colocam verdadeiro
alimento diante deles, até que, pela obra milagrosa do Espírito Santo, eles
reconheçam tal alimento pelo que realmente é e o provem, reconhecendo que o
Senhor é bom[12].
[1] 1 Coríntios
1.17-24
[2] 2 Coríntios 4.13
Almeida Atualiza
[3] 1 Coríntios 9.16
[4] Genesis 24.33
[6] 1 Coríntios 1.21
[7] Romanos 1.22; 2Timóteo 4.3
[8] N.T.: O termo utilizado em inglês, “seeker” se refere
a igrejas nos EUA conhecidas como “seeker-sensitive”, igrejas onde o culto é
organizado para agradar os participantes, seguindo suas opiniões.
[9] Mateus 5.18
[10] Mateus 8.29
[12] Isaías 55.1-2; Salmos 34.8
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