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sábado, 30 de maio de 2015



“Não me envergonho do evangelho...” — Romanos 1.16

Antes de considerar a ousadia de Paulo ao pregar o evangelho, precisamos entender algo do evangelho que ele pregava. E um bom princípio de comunicação definir os termos antes de qualquer debate ou discussão adequados. Isso limpa o campo e permite que as pessoas envolvidas saibam a posição do outro e o que querem dizer quando falam. Os evangélicos, hoje em dia, definem termos teoló­gicos de forma tão vasta que já não podemos garantir que estão falando a mesma coisa que nós, embora usem os mesmos termos. Isso é especialmente verdade com relação ao evangelho.

A primeira coisa a considerar em nosso texto é o artigo definido de do. Paulo não tinha um evangelho que lhe era particular. Seu evangelho não era um evange­lho paulino em oposição a um evangelho petrino ou joanino[1]. Apesar de algo da personalidade desses apóstolos brilhar através de suas apresentações, o evange­lho que compartilharam era o mesmo. Eles nada sabiam do linguajar frequente de nossos dias que fala de diferentes variações, versão ou sabores do evangelho como se pudesse existir mais de um.[2]

Segundo, Paulo não tinha um evangelho que era peculiar para certa cultura. Ele não pregou uma variedade aos judeus e outra aos gentios. Embora estivesse ciente das diferenças culturais e utilizasse vias de acessos próprias de cada cultura, seu evangelho não era adaptado para se ajustar a uma cultura ou ser menos ofen­siva a ela. De fato, a própria ofensividade do evangelho tanto para judeus como para gregos era precisamente o que colocava sua vida em constante perigo. E de se duvidar que o apóstolo Paulo aceitasse a enorme preocupação do evangelicalismo contemporâneo em compreender minuciosamente uma cultura específica e adap­tar sua mensagem e metodologia a ela. Paulo entendia que, em última instância, todas as pessoas de todas as culturas sofrem do mesmo mal e só uma mensagem tem poder para salvá-las.

       Finalmente, Paulo não tinha um evangelho que fosse particular a uma única época da história do mundo. E certo que, durante a vida de Paulo, houve mudan­ças significativas no Império Romano, o que não o impediu de pregar na velhice o mesmo evangelho que havia pregado décadas atrás, no começo do seu ministério apostólico. Sem dúvida, ele ficaria surpreso com a convicção do cristianismo con­temporâneo de que cada década que passa traz uma nova geração que requer uma nova apresentação ou adaptação do evangelho.



[1] As palavras petrino e joanino se referem ao evangelho pregado por Pedro e João respectivamente.
[2] As diferentes opiniões sobre o evangelho são normalmente categorizadas como variações da mesma verdade, ou como
a observação da mesma verdade sob diferentes ângulos, ou mesmo como a ênfase em diferentes aspectos da mesma verdade. Isso falha em reconhecer que as meras “variações” são muitas vezes evangelhos completamente diferentes. O evangelho reformado é completamente diferente do evangelho católico romano, um evangelho baseado na fé está em direta contradições a um evangelho baseado nas obras; um evangelho verdadeiramente evangélico está em contradição com o evangelho ultracaristmático.